domingo, 28 de novembro de 2010

Pelo menos temos o SUS...


Falem o que falarem do SUS. Sou fã. Vi pessoalmente VÁRIAS pessoas serem salvas devido a sua existência. Crianças nascerem. Cirurgias de urgência complicadas. Semanas de internação. Tudo modesto, mas muito funcional E humano. Como, peloamordedeus, deixar os serviços de saúde aos cuidados do mercado? Melhor se queixar para um político que não olha apenas preços e quantidades.  

Um estudo recente da Faculdade de Medicina de Harvard indicou que quase 45 mil estadunidenses morrem anualmente (um a cada doze minutos) principalmente porque não têm seguro de saúde. Mas para o grupo pressão das empresas, a única tragédia seria a possibilidade de uma verdadeira reforma do sistema de saúde. Em 2009, as maiores empresas do setor destinaram mais de 86 milhões de dólares à Câmara de Comércio dos Estados Unidos para que esta se opusesse à reforma do sistema de saúde. Este ano, as cinco maiores seguradoras do país aportaram uma soma de dinheiro três vezes maior tanto para candidatos republicanos como para democratas com a intenção de fazer retroceder ainda mais a reforma da saúde. O representante democrata por Nova York, defensor do sistema de saúde público, declarou no Congresso que “o Partido Republicano é uma subsidiária que pertence por completo à indústria de seguros”.

Dica do Marco Weissheimer.

Em tempo: Nossos meios de comunicação prestam enorme desserviço ao denegrir sistematicamente o importante papel que um sistema de saúde como o nosso desempenha para a sociedade.

sábado, 27 de novembro de 2010

Ciência Regional

Ainda falta aplicá-la aos nossos parâmetros estruturais:


Walter Isard’s research contributions are large and diverse. His interests in regional and urban phenomena were formed during his graduate studies, leading to his first major book, Location and Space Economy (1956). Next, he initiated research on the economic and social consequences of atomic power and industrial complexes and intensified his research on methods of regional and urban analysis, including interregional interindustry models, interregional linear programming models, and migration and gravity models. This resulted in his second major book, Methods of Regional Analysis (1960), later thoroughly updated as Methods of Interregional and Regional Analysis (1998). During the 1960s Isard turned to more theoretical pursuits related to individual behavior and decision making as well as general equilibrium theory for a system of regions as presented in his third major book, General Theory (1969). Concurrently, he and his students undertook a major interindustry study of the Philadelphia region and other empirically-oriented research.

Dica do sempre bem informado: Leonardo Monastério

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Florestan Fernandes e a Revolução Burguesa no Brasil

Dialético - a palavra que melhor define o pensamento de FF. Filho de empregada doméstica, pesquisador incansável, criativo, líder, orientador de FHC (sim, aquele mesmo), legou vasta e admirável obra sobre diversos aspectos da sociedade brasileira, bastante desconhecido do grande público. O único professor que eu escutei falando (e bem) dele (não só aqui no Sul) foi o Pedro Fonseca. Claro, na USP devem se encher dele...
Quase terminando a estação dos intérpretes do Brasil, segue a Revolução Burguesa::


A ideia-chave para entender a Revolução Burguesa em FF é processo. Revolução como processo lento, gradual e de acomodação. “Revolução” é um conceito tradicionalmente visto como um ponto determinado no tempo onde ocorre uma mudança qualitativa. Mostrar que a revolução burguesa no Brasil foi um processo histórico é um ato de criatividade de FF. Todos os sistema capitalistas instituídos nos diferentes Estados-Nação têm que passar por um processo de construção histórica. No Brasil ele se deu de forma gradual, lenta, difícil, eivado de idas e vindas, conflituoso, se dando ao longo do tempo, assimilando e negando o legado do Império, bem como a inserção subordinada do país ao capitalismo internacional. A questão que se coloca para FF é determinar as continuidades e rupturas desse processo durante o período de constituição da ordem burguesa no país, marcada pelo gradualismo e pelo processo de acomodação, cuja inserção dependente no grande circuito do capital internacional deixou profundas marcas na constituição de nossa ordem burguesa.
Do ponto de vista metodológico, FF utiliza o método dialético, e analisa o concreto e específico do país frente ao conceito abstrato de "Revolução". Embora abarcadas pelo mesmo conceito, “Revolução Burguesa”, cada uma das revoluções burguesas presenciadas até hoje, mesmo que tenham largos traços comuns, ocorreram em países com contextos históricos concretos e específicos, resultando em diferentes interpretações e alcances dos efeitos da nova ordem social comandada pela burguesia.
Houve capitalismo no Brasil? Questão central para entender o processo da Revolução Burguesa e a interpretação que FF lhe dá. A literatura sobre esse assunto no Brasil se dividia em posições antagônicas. Autores como Caio Prado Jr. defendiam que sempre houve capitalismo no Brasil. Nelson Werneck Sodré e Alberto Passos Guimarães, representantes do 'marxismo oficial', consideravam que nunca houve. CPJr argumenta que sempre houve capitalismo, porque o ciclo da cana-de-açúcar, por exemplo, insere o país no circuito internacional do capital desde o seu nascimento, recusando, contudo, a aceitar que o senhor de engenho seja um capitalista. Este é visto como um agente para viabilizar a acumulação da metrópole, não se constituindo numa classe para si, ie., sem consciência. O seu excedente não é lucro. De outra parte, o marxismo oficial defende que nunca houve capitalismo e que a tarefa histórica a ser realizada é livrar o país do feudalismo. FF recusa ambas as teses.
Para este Intérprete, a Revolução Burguesa é uma relação dialética entre o sempre e o nunca do capitalismo no Brasil, que se constituiu como um processo dotado de feições próprias, com suas particularidades e especificidades históricas e sociais, cuja finalidade era o desenvolvimento capitalista e a dominação burguesa. Assim, como em Faoro, também em FF existe uma mistura entre economia e política, diferente do marxismo tradicional, já que para ambos os autores a estrutura econômica não se movimenta por si só. O capitalismo não é visto como uma coisa natural, cujas classes e modo de funcionamento apareceram espontaneamente. Ao contrário. O aparecimento de uma classe social voltada ao risco e à acumulação é uma novidade histórica de grandes proporções. Essa sociedade de classes passa a se constituir hierarquicamente, moldando as novas relações sociais por razões econômicas, mas não se livrando totalmente das antigas ideias de honra, poder e prestígio que animavam a nobreza e o Império.
Finalmente, a Revolução Burguesa ocorreu não apenas nos modos de produção, mas na própria mentalidade e motivação dos agentes sociais, cujos principais expoentes eram o Cafeicultor Capitalista e o Imigrante. O primeiro, por sua consciência de classe, importância e dinamismo econômico, que levou a consequente defesa dos seus interesses em âmbito nacional, com importantes consequências para a ordem econômica. O segundo, por já vir adestrado ao trabalho assalariado e dotado de mentalidade capitalista. Os móveis capitalistas do raciocínio econômico aos poucos solaparam o antigo regime e a velha ordem econômica. A busca do lucro imprimiu novo dinamismo à sociedade, passando aos poucos a ditar os florescentes valores sociais e econômicos, gradualmente burgueses em pensamentos, palavras e ações. É o progresso dentro da ordem– coincidentemente a lição positivista, que se verifica no caso da Revolução Burguesa brasileira. Processo de longo curso, iniciado ainda sob a dominação colonial, a Revolução Burguesa lentamente se consolida. De fato, a estrutura da terra, a sociedade agrário/exportadora, a escravidão, a centralização monárquica são características de permanência e que, gradativa, nem sempre totalmente, vão cedendo espaço aos valores e comportamentos burgueses ao longo de todo o século XIX, sendo consolidado somente no século XX. O processo que começa em 1808 com a abertura dos portos só se encerra no Estado Novo com a 'Queima das Bandeiras', quando a ordem e a dominação burguesa estão finalmente incontestes.  

terça-feira, 16 de novembro de 2010

1 Dia = 24h a menos

Diariamente, aproxima-se o homem 24 horas da morte. Mas, ao ver um homem, não sabemos exatamente quantos dias ele durará. Isto não impede, entretanto, às empresas de seguro tirarem, sobre a vida média do ser humano, conclusões bastante acertadas e, o que mais lhes importa, muito lucrativas. O Capital p. 239.

sábado, 13 de novembro de 2010

Perspectivas para economia brasileira

Pedaço da prova de Economia Brasileira sobre as perspectivas da economia brasileira.

[C]omo notam Stiglitz, Cimoli, Nelson e Dosi, os países frequentemente se deparam com trade-offs entre eficiência alocativa, inovativa e crescimento, de modo que o maior desafio a um país com imensos potenciais e relativamente distante da fronteira tecnológica deve ser saber equacionar esses três fatores, com justiça social (que implica estabilidade macroeconômica), na busca do seu desenvolvimento de longo prazo. De fato, os analistas estudados se dividem com relação às prioridades.

Carneiro, Coutinho e Barbosa consideram que o país deve acelerar o desenvolvimento dos setores intensivos em tecnologia, até mesmo para manter o superávit em conta corrente. O maior crescimento relativo dos emergentes implica no surgimento e crescimento de novos mercados, que permite o estabelecimento de novas relações comerciais e, assim, de novas oportunidades de comércio e de investimento.
Contudo, o crescimento da China deve ser visto com reservada cautela, uma vez que o baixo preço dos produtos chineses e a alta demanda de matérias-primas no mercado mundial, podem ter múltiplos efeitos indesejados. A ameaça de desindustrialização, tornando o Brasil um exportador de commodities e importador de bens manufaturados é uma realidade que pode se confirmar num futuro próximo se as tendências verificadas persistirem. Do mesmo modo, as novas descobertas de petróleo, as grandes jazidas minerais e a grande quantidade de terras férteis podem resultar na “maldição dos recursos naturais”, se o país se concentrar apenas naquelas mercadorias ou atividades em que atualmente possui vantagens comparativas. Ou seja, o simples crescimento do produto no curto prazo puxado pela exportação de bens primários pode penalizar severamente a inovação, de modo que a ponderação adequada de crescimento e inovação se faz necessária. Do mesmo modo, autores como Franco e Giambiagi ressaltam a importância de se manter políticas de estabilização, que trouxeram inegáveis benefícios ao conjunto da sociedade. Contudo, as políticas ortodoxas em parte tolhem os investimentos em inovação – dado o trade-off entre estabilização e inovação, recolando escolhas que devem ser resolvidas tanto na esfera econômica quanto na política. Em última análise, não existem soluções prontas especialmente para a questão sempre presente das fontes de financiamento para o crescimento. Os trade-offs citados impõem aos agentes, tanto públicos quanto privados, determinar quem e como se pagará para resolvê-los, a fim de moldar o Brasil das próximas décadas. Questão que somente será resolvida nos casos particulares, onde conta mais a prudência do policy maker do que a sabedoria do cientista.