quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Créditos de carbono na barra lateral

O mercado de créditos é atraente por diversos motivos, entre os quais cabe destacar a utilização de ferramentas de mercado para atacar de frente um problema comum a todos, o aquecimento global. Esse mercado pode representar uma excelente oportunidade de investimentos diretos e úteis para o Brasil. É extraordinário o fato de que qualquer,virtualmente, qualquer lugar da terra pode entrar no negócio, basta apenas criar um marco regulatório adequado, com garantias de certificação adequadas. Assim, sem querer me alongar, estréio a barra lateral com informações sobre o assunto.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O reposicionamento da estratégia americana sobre energia

O discurso de Obama avança em vários temas importantes da política americana. Nesse post o comentário é sobre o reposicionamento estratégico dos EUA na área da energia. Logo no início do discurso ele toca no ponto sensível e nevrálgico da era Bush: o petróleo. Obama apresenta assim a questão: "cada dia traz novas evidências de que as formas como usamos a energia fortalecem nossos adversários e ameaçam nosso planeta". É o petróleo que fortalece os adversários da América. Logo, a ênfase na utilização da energia do solar ou eólica não é apenas um preocupação ambiental, é uma conveniência estratégica, posto que a produção de biocombustíveis pode ser local (Na "América" ou Nas américas). Por outro lado, a nova opção energética joga o Brasil no centro das preocupações do novo presidente. Como outros momentos históricos, o Brasil pode aproveitar o seu potencial de produção para criar uma nova etapa de desenvolvimento econômico e social.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A democracia torna as pessoas melhores?

Em tempos de comemoração da democracia como regime político capaz de tornar o mundo um lugar melhor, pareceu oportuno publicar o mito do Epimeteu, contado por Protágoras, em diálogo homônimo de Platão. Esse mito é a defesa poética mais eloqüente que conheço da democracia. Infelizmente ainda não há uma tradução on line em português desse diálogo, ainda que ele esteja disponível para download no Domínio Público em espanhol. O mito é contado por Protágoras, o grande e respeitado sábio de Abdera, como resposta à pergunta de Sócrates se a virtude pode ser ensinada. A posição de Sócrates é que não, enquanto Protágoras julga que a democracia, enquanto regime político, pode tornar as pessoas em geral e os cidadãos em particular melhores (virtuosas).
Questão antiga, tema atual...

(...) Pero, cuando se reunían, se atacaban unos a otros, al no poseer la ciencia política; de modo que de nuevo se dispersaban y perecían.
Zeus, entonces, temió que sucumbiera toda nuestra raza, y envió a Hermes que trajera a los hombres el sentido moral y la justicia, para que hubiera orden en las ciudades y ligaduras acordes de amistad. Le preguntó, entonces, Hermes a Zeus de qué modo daría el sentido moral y la justicia a los hombres: «¿Las reparto como están repartidos los conocimientos? Están repartidos así: uno solo que domine la medicina vale para muchos particulares, y lo mismo los otros profesionales. ¿También ahora la justicia y el sentido moral los infundiré así a los humanos, o los reparto a todos?» «A todos, dijo Zeus, y que todos sean partícipes. Pues no habría ciudades, si sólo algunos de ellos participaran, como de los otros conocimientos. Además, impón una ley de mi parte: que al incapaz de participar del honor y la justicia lo eliminen como a una enfermedad de la ciudad.»
Así es, Sócrates, y por eso los atenienses y otras gentes, cuando se trata de la excelencia arquitectónica o de algún tema profesional, opinan que sólo unos pocos deben asistir a la decisión, y si alguno que está al margen de estos pocos da su consejo, no se lo aceptan, como tú dices. Y es razonable, digo yo. Pero cuando se meten en una discusión sobre la excelencia política, que hay que tratar enteramente con justicia y moderación, naturalmente aceptan a cualquier persona, como que es el deber de todo el mundo participar de esta excelencia; de lo contrario, no existirían ciudades.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Filósofo: merecedor de açoites

Abaixo segue o ataque de Cálicles à filosofia como profissão.
A censura ao filósofo, Sócrates, encontra-se no Górgias de Platão.
Certamente é o ataque mais eloqüente contra a filosofia que já li.
Cada vez me impressiono mais com Platão: de fato, está tudo ali.

A filosofia, Sócrates, é de fato, muito atraente para quem a estuda com moderação na mocidade, porém acaba por arruinar quem a ela se dedica mais tempo do que fora razoável. Por bem dotada que seja uma pessoa, se prosseguir filosofando até uma idade avançada, forçosamente ficará ignorando tudo o que importa conhecer o cidadão prestante e bem-nascido que ambicionar distinguir -se. De fato, não somente desconhecerá as le is da cidade, como a linguagem que será preciso usar no trato público ou particular, bem como carecerá de experiência com relação aos prazeres e às paixões e ao caráter geral dos homens. Logo que procuram ocupar-se com seus próprios negócios ou com a política, tornam-se ridículos, como ridículos, a meu ver, também se tornam os políticos que se dispõem a tomar parte em vossas reuniões e vossas disputas. Aplicam-se-lhes as palavras de Eurípides, quando diz que todo indivíduo brilha naquilo em que aplica a maior parte de seus dias e entre todos os outros se distingue. Mas evita e critica aquilo em que é inferior, elogiando o oposto, levado pelo sentimento de parcialidade, o que é uma maneira de elogiar a si mesmo. No meu modo de pensar, o certo será ocupar-se com ambas as coisas. É belo o estudo da filosofia até onde for auxiliar da educação, não sendo essa atividade desdouro para os moços. Mas prosseguir nesse estudo até idade avançada, é coisa supinamente ridícula, Sócrates, reagindo eu à vista de quem assim procede como diante de quem se põe a balbuciar e brincar como criança. Quando vejo uma criança na idade de falar dessa maneira, balbuciando e brincando, alegro-me e acho encantador o espetáculo, digno de uma criatura livre e muito de acordo com aquela fase da existência; porém se ouço uma criaturinha articular com correção as palavras, doem-me os ouvidos e acho por demais forçado essa maneira de falar, que se me afigura linguajar de escravos. Pelo contrário, um adulto falar ou brincar como criança é procedimento ridículo, indigno de homens e merecedor de açoites. É precisamente isso que se dá comigo com relação aos que se dedicam à filosofia. Alegra -me o espetáculo de um adolescente que se aplica no estudo dessa matéria; assenta -lhe bem semelhante ocupa ção, muito própria de um homem livre, como considero inferior e incapaz de realizar alguma ação bela e generosa quem nessa idade descura da filosofia. Mas, quando vejo um velho cultivá-la a destempo, sem renunciar a tal ocupação, um homem nessas condiçõe s, Sócrates, para mim é merecedor de açoites. Como disse há pouco, quem assim procede, por mais bem-dotado que seja, deixa de ser homem; foge do coração da cidade e das assembléias, onde, exclusivamente, no dizer do poeta, os homens se distinguem, para meter-se num canto o resto da vida, a cochichar com três ou quatro moços, sem jamais proferir um discurso livre, grande ou generoso.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A natureza da retórica no Górgias de Platão: combate

Abaixo, trecho do Górgias de Platão, onde Sócrates e o sofista Górgias de Leontino discorrem sobre a natureza da arte retórica.

Sócrates — E, por isso mesmo que tal fato me causa admiração, Górgias, é que há muito te venho interrogando sobre a natureza da retórica. Afigura-se-me algo sobre -humano, quando a considero por esse prisma.
XI — Górgias — Quanto mais se soubesses tudo, Sócrates;: a retórica, por assim dizer, abrange o conjunto das artes, que ela mantém sob sua autoridade. Vou apresentar-te uma prova eloqüente disso mesmo. Por várias ve zes fui com meu irmão ou com outros médicos à casa de doentes que se recusavam a inge rir remédios ou a deixar-se amputar ou cauterizar; e, não conseguindo o médico persuadi-lo, eu o fazia com a ajuda exclusivamente da arte da retórica. Digo mais: se na cidade que quiseres, um médico e um orador se apresentarem a uma assembléia do povo ou a qualquer outra reunião para argumentar sobre qual dos dois deverá ser escolhido como médico, não contaria o médico com nenhuma probabilidade para ser eleito, vindo a sê-lo, se assim o desejasse, o que soubesse falar bem. E se a competição se desse com representantes de qualquer outra profissão, conseguiria fazer eleger-se o orador de preferência a qualquer outro, pois não há assunto sobre que ele não possa discorrer com maior força de persuasão diante do público do que qualquer profissional. Tal é a natureza e a força da arte da retórica! Contudo, Sócrates, a retórica precisa ser usada como as demais artes de competição; essas artes não devem ser empregadas indiferentemente contra toda a gente; o pugilista, o pancratiasta ou o lutador armado, porque em sua arte contam com a prática e se tornaram nesse terreno superiores a amigos e inimigos, não deverão, só por isso, bater nos amigos, feri-los, nem matá -los. Nem, por Zeus! no caso de haver alguém freqüentado o estádio e se tornado robusto e hábil boxador, e que depois venha a bater no pai ou na mãe, ou em qualquer parente ou amigo, não é por isso, dizia, que devemos perseguir os professores de ginástica e de esgrima, e expulsá-los da cidade. Pois estes transmitiram a outros seus conhecimentos para serem usados com justiça contra inimigos e ofensores, e apenas em defesa própria, não para atacar. Os alunos é que perverteram esses ensinamentos e empregaram mal a própria força e habilidade. Os professores não são ruins nem é má em si mesma a arte, ou responsável por tais abusos, mas, segundo penso, os que não a exercem devidamente. Idênticos argumentos va lem para a arte da retórica. É fora de dúvida que o orador é capaz de falar contra todos a respeito de qualquer assunto, conseguindo, por isso mesmo, convencer as multidões melhor do que qualquer pessoa, e, para dizer tudo, no assunto que bem lhe parecer. Porém não será por isso que ele irá privar o médico de sua fama — o que lhe seria possível — nem qualquer outro profissional. Pelo contrário, deverá usar a retórica com justiça, como qualquer outro gênero de combate. Se um indivíduo que se tornou orador vier a fazer mau uso da força e da habilidade, não é seu professor, quero crer, que deverá ser perseguido e expulso da cidade. O professor transmitiu seus conhecimentos para serem bem aplicados; foi o aluno que fez mau uso deles. Esse, por conseguinte, que os aplicou mal, é que merece ser perseguido, expulso ou morto, não o professor

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Critérios do CA Filosofia para conceder título de pesquisador IA

o CA de filosofia tomará como parâmetro, flexibilizado segundo as circunstâncias, o seguinte modelo com os índices quantitativos definidos na seqüência, a saber:

1 – livros: distinguidos em várias categorias (autoral, divulgação, organização), 1 (um) livro autoral a cada 5 (cinco) anos e 1 (um) de divulgação a cada 3 (três) anos, sem maior precisão quanto aos livros organizados pelo pesquisador, em razão de sua natureza eventual;

2 – capítulos de livro: 1 (um) a cada 2 (dois) anos;

3 – artigos: 2 (dois) por ano;

4 – teses e dissertações: 3 (três) orientações em curso no ano;

5 – congressos: 1 (um) congresso nacional por ano; 1 (um) internacional a cada 2 (dois) anos.

Não será auferido o impacto das publicações, inexistente na área.

A realização in totum desses parâmetros não é obrigatória, podendo haver compensação entre uns e outros, a juízo do CA.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

É possível mensurar a justiça?

A justiça sempre foi vista como assunto de filósofo, além de também ser assunto de economistas, juristas, sociólogos, historiadores, músicos, etc, etc, etc. Desde o seu nascimento na Grécia Antiga, a filosofia trata e tematiza a questão da justiça, sobretudo com Sócrates, imortalizado por Platão como o primeiro e genuíno amante da sabedoria. De fato, a questão da justiça ocupa a principal obra de Platão: a República, Res publica ou Politéia, também conhecido (mas hoje em dia esquecido) Da justiça. No primeiro livro, considerado por vários intérpretes como sendo uma obra originalmente diferente do restante, Sócrates lança a pergunta pelo que é a justiça. A partir de então, a pergunta pela justiça tem sido um dos pilares da filosofia política, ocupando autores tão eminentes quanto Aristóteles, na sua ética, quanto Kant, na sua Metafísica dos Costumes.
Além de se constituir uma difícil pergunta filosófica, a pergunta pela justiça também se constitui como um questão de natureza distributiva e, portanto, uma questão de natureza econômica. Nos tempos de Sócrates, quando as cidades eram menores e as sociedades mais simples, as questões distributivas eram mais claras e se podia, quiçá, apelar ao evidente e ao manifesto. Contudo, nas sociedades atuais, complexas e multifacetadas a questão da realização da justiça econômica não é tão simples. Ela exige que se mensure variadas facetas da vida econômica moderna, cujos principais elementos são intangíveis. Por exemplo: oportunidade. Sem dúvida que faz parte de um ambiente econômico sadio e de uma sociedade justa que hajam oportunidades para os mais capazes, da mesma forma que hajam oportunidades aos que têm menos. Falar em justiça econômica nas sociedades atuais não é apenas falar em renda per capita, PIB ou coeficiente de Gini, uma vez que o acesso às oportunidades constitui papel central na realização da justiça.