terça-feira, 8 de setembro de 2009

Acordo bilateral com a França

Abaixo, pedaço do Plano de Ação contida na declaração conjunta entre Brasil e França. É um acordo complexo, ao que parece, com concessões mútuas. Por exemplo, na exploração de petróleo (!) - imagino que o Br seja uma alternativa a um oriente médio cada vez mais anlo-saxão, lançamento de satélites - por que, se ambos os países já têm bases muito próximas e independentes(?), desenvolvimento regional - nisso os franceses são bons, haja visto o já esquecido RumoS 2015, que adotou a metodologia francesa etc. Além de todos os detalhes, o acordo é sobretudo geopolítico, uma vez que reservaria em tese o Atlântico Sul e suas costas a ambos os países. A propósito: a África é objeto do acordo, com projetos em áreas como energia... Nessa visão, a recuperação da influência francesa na região é um fato aceito e, provavelmente, compartilhado pelos brasileiros.

No campo econômico, ... [o]s dois países, determinados a desempenhar papel essencial na definição de novo modelo de crescimento, envidarão esforços para convencer seus parceiros a aderir a valores e princípios comuns.

No campo da exploração e produção de hidrocarburetos, o Brasil e a França envidarão esforços para desenvolver a cooperação bilateral em torno de projetos conjuntos.

Na área do direito do mar, os dois países intensificarão seu intercâmbio para formalizar a cooperação bilateral e facilitar a aquisição mútua de dados sobre o limite exterior da plataforma continental dos dois Estados na fronteira marítima entre o Brasil e a Guiana Francesa.

No campo científico e acadêmico, será dada prioridade à promoção de tecnologias de alto nível. A esse respeito, o intercâmbio universitário será facilitado, contemplando, em particular, a formação cruzada de engenheiros e o reforço dos laços entre os centros de pesquisa. A formação profissional será objeto de particular atenção.

No campo da cooperação administrativa, os dois Presidentes decidiram encorajar a cooperação em matéria de ordenamento territorial, urbanismo e política urbana entre as administrações estaduais e municipais, do Brasil, e territoriais, da Franca

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Um bom argumento

Eis o que me parece ser um bom argumento, com atenção às premissas e a consequência da conclusão:

Premissa 1: O agronegócio latifundiário se apresenta como moderno e produtivo, tecnologicamente avançado, sustentáculo das exportações agrícolas.

Premissa 2: No entanto, demonstra um medo arrasador a uma simples atualização dos índices de produtividade em cumprimento à lei agrícola (este setor só é defensor da lei quando esta lhe favorece), pela média dos últimos dez anos.

Premissa 3: A última atualização é de 34 anos atrás.

Conclusão: Portanto, ou não é verdade que se modernizaram e são produtivos ou o pavor dos índices não se justifica.

Argumento de Vanderlei Martini, via Diário Gauche

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Violência e econometria

A econometria também permite uma avaliação mais instrutiva da violência, evitando a análise enviasada da grande imprensa. O artigo abaixo da Econometrica é sobre São Paulo (não entendo por que nem o abstract dos artigos está em português)

Victimization in São Paulo State, BrazilFábio Augusto Reis Gomes, Lourenço Senne Paz


Abstract


In this paper, the determinants of victimization by burglary/larceny are assessed theoretically by a model that takes into account the victim’s investment in self-protection and criminals with heterogeneous ability. Such features generate a non-increasing relationship between an individual’s income (which is attractive to the criminal) and her victimization likelihood. Thus, we obtain a novel result indicating that rich people might experience less victimization than middle-class individuals. The determinants are also investigated empirically using a victimization survey for São Paulo state – Brazil (Pesquisa de Condição de Vida – 1998 ), and unlike the previous literature, we found evidence that most of the city size effect on victimization likelihood is explained by the city’s population characteristics (income, education, etc.). Moreover, crime and city size do not have an increasing relationship, and the same applies to victimization likelihood and victim’s income. These results are in line with our theoretical model predictions. Finally, we found evidence that people do not consider their victimization likelihood when choosing a city to live in.

A dica também é do De Gustibus non est disputandum.

Econometria e educação

Sem dúvida, o uso de métodos econométricos é uma ferramenta poderosa para avaliar o desempenho escolar. Não é à toa que economistas e estatísticos têm ganhado espaço nas discussões sobre políticas educacionais. Aquele blá blá blá dos pedagogos felizmente perde espaço. Abaixo o resumo de uma das apresentações do Seminário de economia de Belo Horizonte, que acontecerá ainda neste mês:
Avaliando o Impacto da Progressão Continuada nas Taxas de Rendimento e Desempenho Escolar do Brasil

Naércio Menezes-Filho
Lígia Vasconcellos
Sérgio Ribeiro da Costa Werlang
Roberta Loboda Biondi

Resumo
Este trabalho contribui para o debate a respeito do programa de progressão continuada,apresentando as estimativas do seu impacto sobre as taxas de aprovação, abandono e desempenho escolar. Os resultados apontam para uma maior taxa de aprovação e menor taxa de abandono nas
escolas que adotam o programa. Com relação ao desempenho escolar, obteve-se uma redução na proficiência dos estudantes da 8a série do ensino fundamental, enquanto que para a 4a série os resultados não foram significativos. A partir destas estimativas, é calculado o retorno econômico do programa e concluímos que a adoção da progressão continuada atinge seus objetivos de aumentar o incentivo para a permanência do aluno na escola, o que tem como conseqüência direta a melhora da renda futura, mesmo com o impacto negativo no desempenho.

Dica do De Gustibus non est disputandum.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O desenvolvimento conservador


A foto exemplifica o nosso histórico modus operandi: desenvolvimento conservador (também pode ser considerada a benção das elites políticas à futura presidente).
De qualquer modo já dá para ver, pois está nítido na foto, com quem ficará boa parte da riqueza do pré-sal... com todas as contradições e tensões que esses personagens provocarão em nosso futuro, quer nós queiramos, quer não.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Justiça distributiva e desenvolvimento econômico

O estudo das relações entre ética e economia se fortaleceu nos últimos anos, em especial após a concessão do prêmio Nobel de Economia de 1998 a um estudioso do assunto, Amartya Sen. Contudo, como aponta o autor em seu livro Ética e Economia (2004), essas relações não são novas, de modo que o próprio pai fundador da economia moderna, Adam Smith, professor de filosofia moral em Glasgow, considerava sua seminal obra de economia Investigação sobre as origens e causas da riqueza das nações (1979) uma parte, um subsistema, de seu sistema filosófico mais geral acerca dos sentimentos morais, exposta em sua obra de filosofia A teoria dos sentimentos morais (2002)1.
Embora Sen seja a principal referência entre os economistas sobre as relações tempestuosas entre ética e economia, o recrudescimento do assunto se deveu em grande medida ao filósofo americano John Rawls, que em 1971 publicou sua monumental Uma Teoria da Justiça (2002), na qual formula com rigor a concepção de justiça como equidade, que lhe permite apresentar de maneira convincente uma concepção rigorosa e, ao mesmo tempo, plausível, de justiça distributiva. A concepção igualitária liberal de justiça modifica rapidamente o espectro da cena política, tornando o liberalismo, em sua versão rawlsiana, uma bandeira da “esquerda”, substituindo com vantagens as concepções de inspiração marxista. Dado o impacto da obra de Rawls, as teorias tradicionais de justiça, o utilitarismo, o libertarismo e o marxismo, são forçadas a se reformularem e reapresentarem seus princípios fundamentais, notadamente os princípios da utilidade, liberdade e igualdade com mais clareza e coerência.
A apresentação dessas teorias e suas reformulações a partir do desafio proposto por Rawls constituem o corpo principal deste trabalho, respectivamente, o utilitarismo, o libertarismo, o igualitarismo e o igualitarismo liberal.
O objetivo da análise consiste não apenas em apresentar o posicionamento teórico e a coerência interna de cada uma das teorias da justiça, como também investigar quais são as concepções de cada delas sobre o que é, afinal de contas, uma sociedade desenvolvida, já que essa deve ser, por definição, uma sociedade justa. Desse modo, a busca por desenvolvimento e pelo funcionamento justo das instituições constituem a busca pela mesma coisa. Não há desenvolvimento sem justiça, não há justiça sem desenvolvimento. É lícito, como será apresentado, divergir sobre o que seja a justiça, e quais devem ser as opções de desenvolvimento a seguir, mas essa divergência deve estar baseada em argumentos que possam ser discutidos de forma racional e que possam satisfazer de algum modo nossas intuições morais mais elementares.

Início do TCC apresentado à FCE em julho de 2009.