quinta-feira, 26 de março de 2009

O direito de resistência

Norberto Bobbio em seu introdutório Direito e Estado no pensamento de I. Kant apresenta as diferentes teorias modernas sobre o direito de resistência do súdito em relação à vontade do governante:

- A vontade do governante é sempre justa, portanto o súdito não deve resistir: absolutismo (Hobbes);

- A vontade do governante pode ser injusta, mas o súdito não deve resistir (não me lembro do nome do tarado que defendia essa teoria);

- A vontade do governante pode ser injusta, o súdito pode resistir, mas deve se submeter à punição (Kant);

- A vontade do governante pode ser injusta, o súdito pode resistir, e o direito a resistência é negativo (restauração dos direitos) (Locke);

- A vontade do governante pode ser injusta, o súdito pode resistir, e o direito a resistência é positivo (Rousseau);

Como Bobbio é um liberal, falta uma das teorias que pregam o direito de resistência:

- A vontade do governante pode ser injusta, o súdito pode resistir, e o súdito pode derrubar o governante (Jacobinos, Bolcheviques etc;)

Escolha a teoria que mais lhe agrada para aplicá-la ao nosso momento atual! Se lhe apetecer, justifique.

Fantasmas por toda parte

I see dead people...
Talvez, assim como no filme, ela descubra que, no final, o fantasma era ela.



Via RS Urgente:

O uso da palavra e o exercício do poder

Desde que o mundo é mundo o uso da palavra está diretamente associado ao exercício do poder. Deter a palavra é deter o poder. João, o mais filosófico dos evangelistas, começa seu texto afirmando que no início era o verbo e (somente então)o verbo se fez carne... Com o advento das novas tecnologias, o amadurecimento da blogosfera e o papel cada vez mais importante que os blogs desempenham na apreciação crítica da realidade e da análise política brasileira, essa antiguíssima igualdade reaparece. Sentindo-se ameaçados pelo que antes era considerado distração de meia dúzia de desocupados, a grande imprensa - ferrenha defensora de SEU direito de expressão - volta-se contra a liberdade de expressão ao ter suas pautas e coberturas questionadas. O limite das críticas e da censura deve ser a opinião dos leitores (aliás, todos os blogs possuem seção de comentários), e não jornalistas pagos a mando dos clãs que controlam os meios de comunicação no Brasil. Para ilustrar a ameaça que paira no ambiente livre da blogosfera, segue notícia sobre o tema do RSUrgente.

(...) Com o crescimento da rede de sites e blogs que acompanham e comentam a cobertura diária da mídia, tem crescido também o número de processos contra os autores destes textos. O alvo mais recente desta alergia foi o jornalista Wladimir Ungaretti (foto), professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A Justiça determinou que Ungaretti retirasse do site Ponto de Vista todo conteúdo que pudesse ser considerado ofensivo ao repórter fotográfico Ronaldo Bernardi, do jornal Zero Hora. Na ação que moveu contra Ungaretti, Bernardi reclamou, entre outras coisas, de sua identificação pelo apelido de “Fotonaldo”. A Justiça acolheu em primeira instância o pedido do fotógrafo e Ungaretti resolveu suspender temporariamente as atividades do site que faz uma análise crítica diária do jornal Zero Hora.

Outro caso é o do blog Nova Corja, que após sofrer processos do jornalista Políbio Braga, agora sofre uma ação judicial do jornalista Felipe Vieira, da Rede Bandeirantes. Ele reclama de constrangimentos que estaria sofrendo por causa de posts publicados há quase um ano no blog. A queixa-crime, por injúria e difamação, é dirigida contra Rodrigo Oliveira Alvares, Leandro Demori, Walter Valdevino Oliveira Silva, Mário Camera e Jones Rossi.

Durante décadas, os profissionais da chamada grande imprensa trabalharam sem o tipo de acompanhamento crítico diário que ocorre hoje na internet. E sempre tiveram posição contrária à censura de seus trabalhos. Agora, aparentemente, jornalistas podem engrossar a onda daqueles que querem impor “limites mais rígidos à internet. A linguagem adotada pela maioria dos blogs e sites alternativos é irreverente por natureza. Pois agora, a irreverência e o sarcasmo estão sendo tipificados criminalmente.

...Fotonaldo, Fotonaldo, Fotonaldo...

terça-feira, 24 de março de 2009

Fantasmas do Piratini

Esse veio da la vieja bruja. Fazia um tempo que eu não a visitava. Que seu sarcasmo continue inegociável!

Curioso relato

Essa veio do Diário Gauche. Nossa desgovernadora foi convidada para falar sobre Democracia pela Fundação Konrad Adenauer no hotel Sofitel, em Copacabana.


(...) Foi dado a ela o tempo de quinze germânicos minutos para falar sobre “A democracia do Brasil”.

A governadora dividiu seu tempo em três partes: na primeira, depois de desfraldar uma bandeira do Estado do Rio Grande do Sul, tratou de explicar aos presentes sobre o significado das expressões – Liberdade, Igualdade, Humanidade – que a ilustram; na segunda parte, dona Yeda comentou longa e minuciosamente sobre as cores da nossa bandeira estadual, e no terço final de sua oração, Sua Excelência discorreu sobre os fantasmas que habitam o Palácio Piratini e “que a impedem de trabalhar lá”, chegando a jurar que em hipótese alguma permanece no local depois das 18 horas. Encerrou a sua fala sem mencionar o vocábulo “democracia”.

Ninguém entendeu lhufas.

Argumentos persuasivos

Abaixo, pedaço de interessante e didático texto de Desidério Murcho sobre argumentos persuasivos, oriundo do portal de filosofia em língua portuguesa Critica na Rede. Tem uma aba interessantíssima lá sobre lógica, com vários textos de primeira. Vale uma visita!

Em conclusão, nem a validade nem a solidez dão conta, por si só, da argumentação persuasiva. A validade é um conceito exclusivamente lógico; a verdade das premissas, necessária para estabelecer a solidez de um argumento, é um conceito metafísico; e a argumentação persuasiva é um conceito epistémico. Evidentemente que há relações entre os três domínios, mas confundi-los provoca incompreensões graves, nomeadamente relativas à diferença entre argumentação e explicação. Assim, o conceito de argumento bom ou forte ultrapassa o domínio estrito da lógica formal, caindo no domínio da lógica informal, tal como acontece com o conceito de falácia. Do ponto de vista estritamente lógico, da lógica formal, um argumento é válido ou inválido, sem haver lugar a falácias, que são argumentos inválidos que parecem válidos quando os agentes estão em certas condições cognitivas. O conceito de falácia é assim parcialmente psicológico. Se o conceito de falácia é ou não epistémico, como o conceito de argumento forte ou bom, é algo que deixo para segundas núpcias. Em qualquer dos casos, não é um conceito que pertença ao domínio da lógica formal; tal como o conceito de argumento bom ou forte, pertence ao domínio da lógica informal, que tem em conta as condições epistémicas dos agentes cognitivos.

quarta-feira, 18 de março de 2009

O utilitarismo de J. S. Mill e o princípio da maior felicidade

Stuart Mill é um dos grandes expoentes do iluminismo inglês. Contudo, apesar dos belos ideais, a sua argumentação está longe de ser satisfatória para quem desconfia dos "poderes da razão" e do hedonismo bem intencionado.

"Segundo o Princípio da Maior Felicidade (...), o fim último, com referência ao qual e por causa do qual todas as outras coisas são desejáveis (...), é uma existência isenta tanto quanto possível de dor, e tão rica quanto possível em deleites, seja do ponto de vista da quantidade como da qualidade. O teste da qualidade, a regra que permite mensurá-la em oposição à quantidade, é a preferência manifestada pelos que, em razão das oportunidades proporcionadas por sua experiência, em razão também de terem o hábito de tomar consciência de si e de praticar a instrospecção, detêm os melhores meios de comparação. Sendo esta, de acordo com a opinião utilitarista, a finalidade da ação humana, é necessariamente também o padrão da moralidade."

"O senhor tome cuidado ao fazer esse tipo de pergunta"

Nada como nosso paladino da constituição para dizer o que deve ser perguntado pela imprensa. Evidentemente que devemos pedir permissão para perguntarmos o quê o defensor do Estado Democrático de Direito pensa, senão não seria uma democracia, certo!?

terça-feira, 17 de março de 2009

Economia matemática

As informações abaixo foram enviadas pelo professor de Economia Matemática, Jorge Araújo, e narram a fascinante história dos desenvolvimentos da matemática no século XX, em especial, a constituição da Economia Matemática como disciplina autônoma e criativa.

O célebre artigo “Zur theorie der Gesellschafttespiele” (Sobre a Teoria dos Jogos de Salão), Mathematische Annalen,100, p. 295-320, de 1928 de von Neuman mostra que num jogo de soma-zero sempre existe pelo menos um ponto de sela em estratégias mistas para os payoffs esperados dos jogadores. Este resultado é o chamado Teorema Minimax ou Princípio Minimax. A demonstração deste teorema pode ser feita de várias maneiras, mas nenhuma é simples. A mais comum pode-se encontrar no artigo do Nash, “Equilibrium Points in n-person Games”, Proc. Nacional Academy of Sciences, 1950, p. 48-49. Em 1953, o matemático Maurice Fréchet reivindicou, num artigo na Econometrica, a criação da teoria dos jogos para o seu compatriota Émile Borel. Von Neumann, no mesmo número da revista, argumentou que para ele, von Neumann, a teoria dos jogos inicia-se com o seu teorema minimax. De fato, é difícil exagerar a importância deste teorema para a teoria econômica no século XX.

Em 1947, num encontro entre George Dantzig e von Neumann, o último percebe a relação entre os problemas de programação linear e o teorema minimax. Posteriormente, em 1950, Kuhn e Tucker generalizam o resultado de Dantzig-Neumann para programação não-linear no famoso Teorema de Kuhn-Tucker, Nonlinear Programming, Proceedings of Second Berkeley on Mathematical and Statistics, p. 481-492, onde mostram que num problema de otimização os pontos ótimos (x∗, λ∗) são selas do lagrangeano.

Os famosos artigos de Émile Borel foram publicados em inglês no mesmo número da Econometrica, Vol. 21, n° 1, jan. 1953. Borel, Émile. The Theory of Play and Integral Equations with Skew Symmetric Kernels, 1921; On Games that Involve Chance and Skill of the Players, 1924; On Systems of Linear Forms of Skew Symmetric Determinants and The General Theory of Play, 1927.

Estes artigos foram traduzidos para o inglês pelo matemático Maurice Fréchet no mesmo número da Econometrica em que mantém a polêmica com Von Neumann.

Fréchet, Maurice. Emile Borel, Initiator of the Theory of Psychological Games and Application, 1953; Commentary on the Three Notes of Emile Borel, 1953

Seguindo este último artigo temos a manifestação de von Neumann, J.. Communication on the Borel Notes, 1953. O artigo considerado inicial da teoria dos jogos é von Neumann, J. Zur Theorie der Gesellschaftsspiele. Mathemastische Annalen, vol. 100.

Sobre a história do húngaro, de origem judia e radicado nos EUA, von Neuman, ver este interessante artigo.

A filosofia de um pardal

Via Fonseqa

quinta-feira, 5 de março de 2009

Argumento ad hominem culpa por associação

Para o deputado federal José Aníbal, Luciana investe nas denúncias principalmente por ser ano pré-eleitoral:

- Afinal o pai dela é candidato a governador do Rio Grande do Sul.

Terra Magazine

Argumentos do tipo culpa por associação tentam repudiar uma afirmação atacando não o proponente da afirmação, mas pessoas de seu relacionamento, ou questionando a reputação daqueles com quem concorda.

Exemplo:
Jones defende a adição de flúor à água
Jones é amigo de bêbados e criminosos
Logo, não devemos adicionar flúor à água
Solução:

As premissas são irrelevantes para a conclusão; ainda que Jones tenha amigos indesejáveis, o que ele defende pode muito bem ser verdade. A questão lógica central aqui é o fracasso em relacionar as premissas com a conclusão.

terça-feira, 3 de março de 2009

E o factóide de luxo vai para...

Assim como a Amora de Ouro é um prêmio dado aos piores do cinema americano, o Sátiro concedeu o Factóide de luxo de 2009 para Gilmar Mendes. Eis a sua exposição de motivos:

Toda vez que Mendes abre a boca, surge a dúvida: qual “Estado de Direito” defende o presidente do STF? Uma relação harmoniosa entre os poderes, ponto fundamental para a democracia, reside na compreensão de cada um de seu papel. No mundo inteiro, juízes, principalmente chefes de altas cortes, costumam pronunciar-se nos autos de processos. No Brasil, não. Mendes esmerou um estilo que já vinha se consolidando no Supremo: o de julgamentos midiáticos.

Blogotite

Abaixo, depoimento em tom confessional do Donizete, que está de casa nova. Meu histórico é parecido com ele: quem não se lembra da hospedagem no geocities?? Mas o fato é que esse amadurecimento dos blogueiros, alguns fazendo década na rede, resulta forçosamente em maior reflexão sobre os temas escolhidos para postar, bem como em um tratamento mais sistemático das questões propostas. O que acaba levando a uma postura mais crítica sobre a realidade em que vivemos e a um desejo realizado de participar das discussões públicas, com essa ferramenta incrível e barata que é o blog. É a realização do animal político num registro inimaginável no tempo de Aristóteles

(...)
Mas eu mudei. Desde que me tornei um blogueiro acredito ter vivido cem anos em cinco. Viagens, novas amizades e re-encontros, grandes paixões e amores perdidos, a entrada na casa dos trinta anos e, principalmente, a psicologia, que passou a fazer parte da minha vida. Mudaram meu jeito de ser, minha visão de mundo e de homem. Se meus interesses antes eram apenas os seriados, discos, livros e shows; hoje não consigo deixar de pensar a realidade em que vivo. Tornei-me crítico de nossa cultura e de como ela nos envolve e nos abraça, tornei-me atento às contradições dos mais diversos discursos e a como praticamente tudo está relacionado a vertentes políticas e ideológicas.

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segunda-feira, 2 de março de 2009

Análise lógica e editoriais chinfrins

O César Xrmrr está inspirado por esses dias - provavelmente seja a volta às aulas, preparando o semestre - aproveitando a chuvarada para treinar análise lógica. Eis outro belo exercício, dessa vez com análise lógica de editorial chinfrin do pasquim local. (Será que um dia eles irão se envergonhar?!)

Eis outro exemplo de aplicação do método de extração e avaliação de argumentos de Alec Fisher, usando textos de jornais. Agora veremos um editorial da Zero Hora de hoje (2009-03-02).

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Ainda sobre factóides

Sou assinante do Noticiário de Imprensa do Senado Federal. Aliás, a iniciativa do Noticiário é louvável e um grande avanço rumo à informação de qualidade, pois mantém o leitor relativamente atualizado sobre as discussões no plenário e, o mais interessante, nas comissões. As comissões temporárias e permanentes tanto do Senado quanto da Câmara repercutem os grandes temas da vida pública brasileira, de modo que aqueles que se interessam pelo debate público em geral, e pelo funcionamento prático da democracia em particular, ganham muito ao ver as discussões nessas comissões. Contudo, a atual presidência da casa tem abusado dos factóides jornalísticos, devido a razões exploradas em post anterior.

Vejamos abaixo três casos, todos oriundos da presidência do Senado:

1) Sarney anuncia cortes para reduzir gastos do Senado (17/02/2008)

2) Sarney: "Sem a fiscalização do dinheiro público, voltamos a um tempo de retrocesso" (18/02/2009)

3) Sarney e Temer decidem criar comissão para consolidar projetos da reforma política (26/02/2009)

O que essas três manchetes têm em comum? Além de apresentarem Sarney fazendo e decidindo? O próprio!!! Vejamos quais as informações relevantes que nos trazem essas notícias e confrontemos com a prática política do mandatário da atual gestão.

Primeira questão: redução de gastos, por que mesmo!? Como aquela promovida pela "Constituição Cidadã" que, num passe de mágica, deu estabilidade para milhares de funcionários públicos não concursados? Como será mantida a estrutura política acessória e inútil ao estado que o chefe do clã é responsável por manter próxima ao poder? No seu esquema de fazer política, o Estado é quem paga a conta. Para que reduzir?

Segunda questão: a que tempo de retrocesso o chefe do clã está se referindo? À época da ditadura, quando o seu partido, a ARENA, estava no poder e ele era seu presidente? À época da transição à democracia, quando o mesmo foi guindado ao poder sem ganhar nenhum voto? À época de sua aliança com FHC ou, então, seria à época de sua atual aliança com o Lula? Alguém me situe onde está o retrocesso, por gentileza.

Terceira questão: Reforma política!? Só pode ser piada, vindo de um dos principais beneficiários do atual sistema político, que como já mostrado aqui, se elegeu senador pelo Amapá, com menos votos que um vereador por São Paulo e que mantém centenas de apadrinhados confortavelmente espraiados pela Esplanada dos poderes...

Análise lógica aplicada ao debate público

É impressionante o descompromisso que existe hoje em nosso debate público sobre a coerência das idéias e a necessidade de se fundamentar as conclusões nas premissas estabelecidas pelo argumentador. Argumentar bem, em suma. O aNImOT faz uma análise rigorosa de texto apresentado na ZH de hoje, mostrando por que o argumento apresentado por Brossard, independente de seu conteúdo, deve ser rejeitado por razões lógicas. O que o post do César ilustra é que a guerra contra sofistas de meia pataca que infestam a mídia e o debate público deve ser feita mediante a análise rigorosa e lógica dos argumentos apresentados no debate.

A postagem abaixo é de um blog que será direcionado aos meus alunos de Introdução ao Pensamento Filosófico, e trago para cá por se tratar de uma aplicação dos métodos da lógica que certamente é do interesse do público instruído em geral. Em resumo, aplico métodos de extração e avaliação de argumentos a um texto do Brossard que saiu na Zero Hora de hoje.

* * *

Lógica e argumentação: análise de um texto de Brossard

Começo a dar exemplos de aplicações do método de extração e avaliação de argumentos de Alec Fisher, usando textos de jornais. Isso permite mostrar duas coisas. Primeiro, o quanto é difícil identificar argumentos. Segundo, o quanto podemos ir longe quando estamos equipados com tais ferramentas de análise.

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domingo, 1 de março de 2009

Kant e o jornalismo

Abaixo, palhinha do Óleo do Diabo, resumindo seu trabalho de graduação em comunicação social. Achei o tema muito bacana, ainda que com tom excessivamente otimista, pois os avanços estéticos não devem ser esperados na grande imprensa, mas nos novos jornalistas, articulistas e colunistas que têm cada vez mais voz na blogosfera, isto é, no trabalho de formiguinha. O mundo melhora, mas aos poucos...
E pensar que a beleza é um aspecto da verdade!


(...)

Kant fala sobre a "comunicação universal", que somente a arte teria condições de fornecer. Minha tese é de que toda comunicação é uma forma de arte, incluindo a comunicação da imprensa de papel. O tamanho, o tipo, o corpo das fontes. As fotos e gráficos. O texto. Tudo deve ser (ou deveria ser) concebido segundo uma inteligência estética. Estetizando a imprensa, com inteligência e sentimento, poder-se-ia escapar das inevitáveis e cansativas interferências ideológicas sobre a redação, que só prejudicam a qualidade e a atratividade dos textos. Por outro lado, o debate político e ideológico poderia acontecer na imprensa de uma forma muito mais transparente e livre. Todos se interessariam em acompanhar os esgrimas literários entre escritores de credos distintos.

(...)
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Democracia e meritocracia


Abaixo, pedaço do discurso (ou oração) fúnebre de Péricles, o grande general e estadista ateniense. O discurso aparece no início do segundo livro da História da Guerra do Peloponeso e, certamente, apresenta uma visão idealizada da democracia ateniense, como o próprio Tucídides se encarrega de mostrar. Péricles está consciente do grande desafio da democracia, que é ser, de fato, uma meritocracia... Feito o modelo, é só segui-lo...

"A nossa constituição não imita as leis dos estados vizinhos. Em vez disso, somos um modelo para os outros. O governo favorece a maioria em vez de poucos - por isso é chamado de democracia. Se consultarmos a lei, veremos que ela garante justiça igual para todos em suas diferenças; quanto à condição social, o avanço na vida pública depende da reputação de capacidade. As questões de classe não têm permissão de interferir no mérito, tampouco a pobreza constitui um empecilho: se um homem está apto a servir ao estado, não será tolhido pela obscuridade da sua condição...
Estes não são os únicos pontos pelos quais a nossa Cidade é digna de admiração. Cultivamos o refinamento sem extravagância, e o conhecimento sem efeminação. Empregamos a riqueza mais para o uso do que para a exibição e situamos a desgraça real da pobreza não no reconhecimento do fato, mas na recusa de combatê-la.
Diferentemente de qualquer outra comunidade, nós, atenienses, consideramos aquele que não participa de seus deveres cívicos não como desprovido de ambição, mas sim como inútil. Ainda que não possamos dar origem à política, em todo caso podemos julgá-la; e em vez de considerarmos a discussão como uma pedra no caminho da ação, a consideramos como uma preliminar indispensável de qualquer ação sábia... Em resumo, afirmo que, como cidade, somos a escola de toda a Grécia...
A minha tarefa agora terminou... e pelo menos em palavras as exigências da lei foram satisfeitas. Em se tratando de uma questão de feitos, aqueles que estão sendo enterrados já receberam uma parte das homenagens. Quanto ao resto, os filhos do sexo masculino serão educados às expensas públicas até alcançarem a idade adulta. Assim, o estado oferece um prêmio valioso, a grinalda da vitória nesta corrida de bravura, para recompensar tanto os que caíram quanto os que sobreviveram. Pois quanto maiores as recompensas do mérito, melhores serão os cidadãos."