terça-feira, 27 de julho de 2010

Ainda resta a tarefa de escrever uma filosofia dos subúrbios.

 Chico Buarque tem insights ótimos em músicas como Subúrbios e Ode aos Ratos, e em CDs temáticos como O país da delicadeza perdida. Em sua literatura, Estorvo, me parece impressionante. Não é somente uma estética do bruto e do grosseiro, mas também, e, sobretudo, um retrato que nos é muito familiar. Não conheço outros brasilianistas que trabalhem esse tema. Agradeço dicas.

Subúrbios
Lá não tem brisa/Não tem verde-azuis/Não tem frescura nem atrevimento/Lá não figura no mapa
No avesso da montanha, é labirinto/É contra-senha, é cara a tapa ...

...Lá não tem moças douradas/Expostas, andam nus/Pelas quebradas teus exus/Não tem turistas/Não sai foto nas revistas
Lá tem Jesus/E está de costas

Ode aos Ratos

...Rato de rua/aborígene do lodo/Fuça gelada/Couraça de sabão
Quase risonho/Profanador de tumba/Sobrevivente/ À chacina e à lei do cão
Saqueador da metrópole/Tenaz roedor/De toda esperança/Estuporador da ilusão
Ó meu semelhante/Filho de Deus, meu irmão/

À propósito do título: fiquei muito impressionado com o relato do Flávio Williges num saudoso colóquio em Santa Cruz sobre o projeto que Heidegger tinha de escrever uma filosofia do operário. Desistiu quando descobriu que alguém já tinha feito. Mudou de tema e escreveu uma filosofia do camponês, aliás, um das obras-prima da filosofia do século XX: Ser e Tempo.

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