terça-feira, 20 de julho de 2010

As éticas de Max Weber

Movido por questões burocráticas, revirei a papelada empoeirada procurando a súmula da disciplina As Éticas de Max Weber, ministrada pelo professor Nelson Boeira no distante ano de 1999. Não encontrei a súmula, apenas minhas anotações. Foi uma das disciplinas mais interessantes que assisti na pós-graduação, da qual praticamente não permaneceram registros. Seria realmente uma pena perdê-los por completo:

"A questão que me intriga nesta disciplina pode ser posta dentro dos moldes de Loewith: "O tema explícito das investigações de Weber é o capitalismo... A questão em torno do capitalismo, contida na questão do mundo contemporâneo, implica por seu turno uma determinada idéia daquilo que dentro deste mundo capitalista faz do homem um "homem", o que dentro dele constitui sua humanidade". Isto me levou a pensar quais os problemas específicos do capitalismo que devem ser levados em conta para sua investigação. Dois problemas centrais já estão expostos na teoria do liberalismo clássico: i) o que constitui a humanidade do homem; de fato, o capitalismo postula o homem como naturalmente egoísta, que age exclusivamente em nome de seus interesses egoístas; ii) as relações entre os homens ocorrem, primordialmente, através da mediação financeira. Isto acarreta um problema grave, que parece estar no centro da discussão sobre a sociedade e o Estado no final do século passado: como é possível a sociedade, posto que o homem é egoísta e as relações entre os homens basicamente mediadas pelo dinheiro? Seria crível que, com estas concepções de homem e de relações sociais, os homens se encontrassem em um "estado de natureza". Entretanto, este estado de guerra não acontece, sendo necessário fornecer uma justificação.


Weber também oferece uma explicação a esta questão, apesar de situá-la em moldes bem diferentes.

Gostaria de tentar articular esta questão em torno da qual esta disciplina se desenvolve: os processos de racionalização levam a diferentes esferas de vida, o que ainda não é nosso problema. O problema surge quando essas diferentes esferas de vida entram em choque entre si. Como estas diferentes esferas, especialmente a econômica e a religiosa, se articulam parece ser a chave explicativa para a possibilidade de nossa sociedade. De uma maneira mais ampla, como essas esferas de vida podem permanecer unidas apesar de suas incompatibilidades passou a ser a questão. A minha hipótese consiste no fato de que não me convencia que apenas "afinidades eletivas" entre as esfera econômica e religiosa fornecessem a explicação para a coesão das esferas da vida. Guenther Roth dá respaldo a estas especulações quando identifica a questão central de Economia e Sociedade como sendo o problema da dominação: "The Sociology of Domination is the core of Economy and Society. The major purpose of the work was the construction of a typology of associations, with most proeminence given to the types of domination and their relation to self-satisfaction through appropriation." (p. LXXXVIII)

O problema de buscar respostas à minha questão inicial consiste em que a sociologia da dominação forma, por assim dizer, a cúpula de um edifício conceitual, cujas as bases estão pressupostas para a explicação da unidade entre as diferentes esferas de vida. Parte do problema é, entretanto, resolvido: a unidade acontece pois existe obediência ao comando; esta obediência é, em geral, mistura do hábito, recurso e crença na legitimidade. O problema central é transferido já que a pergunta passa a ser: como as ordens se formam? A resposta à esta pergunta leva a um estudo mais aprofundado da obra de Weber, ao mesmo tempo em que mostram o seu interesse e a relevância para o estudo da sociedade contemporânea."

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