Pedaço da prova de Economia Brasileira sobre as perspectivas da economia brasileira.
[C]omo notam Stiglitz, Cimoli, Nelson e Dosi, os países frequentemente se deparam com trade-offs entre eficiência alocativa, inovativa e crescimento, de modo que o maior desafio a um país com imensos potenciais e relativamente distante da fronteira tecnológica deve ser saber equacionar esses três fatores, com justiça social (que implica estabilidade macroeconômica), na busca do seu desenvolvimento de longo prazo. De fato, os analistas estudados se dividem com relação às prioridades.
Carneiro, Coutinho e Barbosa consideram que o país deve acelerar o desenvolvimento dos setores intensivos em tecnologia, até mesmo para manter o superávit em conta corrente. O maior crescimento relativo dos emergentes implica no surgimento e crescimento de novos mercados, que permite o estabelecimento de novas relações comerciais e, assim, de novas oportunidades de comércio e de investimento.
Contudo, o crescimento da China deve ser visto com reservada cautela, uma vez que o baixo preço dos produtos chineses e a alta demanda de matérias-primas no mercado mundial, podem ter múltiplos efeitos indesejados. A ameaça de desindustrialização, tornando o Brasil um exportador de commodities e importador de bens manufaturados é uma realidade que pode se confirmar num futuro próximo se as tendências verificadas persistirem. Do mesmo modo, as novas descobertas de petróleo, as grandes jazidas minerais e a grande quantidade de terras férteis podem resultar na “maldição dos recursos naturais”, se o país se concentrar apenas naquelas mercadorias ou atividades em que atualmente possui vantagens comparativas. Ou seja, o simples crescimento do produto no curto prazo puxado pela exportação de bens primários pode penalizar severamente a inovação, de modo que a ponderação adequada de crescimento e inovação se faz necessária. Do mesmo modo, autores como Franco e Giambiagi ressaltam a importância de se manter políticas de estabilização, que trouxeram inegáveis benefícios ao conjunto da sociedade. Contudo, as políticas ortodoxas em parte tolhem os investimentos em inovação – dado o trade-off entre estabilização e inovação, recolando escolhas que devem ser resolvidas tanto na esfera econômica quanto na política. Em última análise, não existem soluções prontas especialmente para a questão sempre presente das fontes de financiamento para o crescimento. Os trade-offs citados impõem aos agentes, tanto públicos quanto privados, determinar quem e como se pagará para resolvê-los, a fim de moldar o Brasil das próximas décadas. Questão que somente será resolvida nos casos particulares, onde conta mais a prudência do policy maker do que a sabedoria do cientista.
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sábado, 13 de novembro de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Tradeoffs entre eficiência alocativa, inovativa e de crescimento
Num mundo caracterizado pelas inovações técnicas e gerenciais (tanto contínuas, ie, ao longo de trajetórias tecnológicas bem definidas, quanto descontínuas, com mudança de paradigmas) as defasagens ou lideranças tecnológicas moldam sinais de lucratividade e alocação microeconômica de recursos. A multiplicidade de sinais de mercado faz com que os processos microeconômicos de ajuste tenham grande probabilidade de serem assimétricos. Essas realocações microeconômicas assimétricas, por sua vez, afetam o dinamismo econômico de longo prazo das economias, tanto em termos da taxa de crescimento compatível com equilíbrio do BP, quanto em termos da inovação tecnológica.
Cimoli, Dosi, Nelson e Stiglitz ao aprofundarem este ponto em Instituições e políticas moldando o desenvolvimento industrial: uma nota introdutória, distinguem entre as noções de:
(i) eficiência alocativa;
(ii) eficiência inovativa (ou “ schumpeteriana”); e,
(iii) eficiência de crescimento de padrões particulares de produção.
As escolhas possíveis entre essas três noções têm pouco a ver com problemas relacionados à informação incompleta, ainda que esses efeitos possam ser relevantes numa análise mais ampla; mas com oportunidades econômicas decorrentes de decisões passadas, bem como com a assimetria que caracteriza a tomada de decisão frente a um passado irrevogável e a um futuro incerto.
Argumentam os autores que mecanismos relativos à alocação de recursos afetam hoje e afetarão a direção e a velocidade futuras das inovações, de modo que o conjunto das decisões individuais ao longo do curso histórico acabam determinando quais competências técnicas serão acumuladas, com maior potencial inovativo e presumíveis economias de escala. O progresso técnico, portanto, evolui em permanente desequilíbrio, de maneira dinâmica, com decisões presentes influenciando os coeficientes técnicos futuros, bem como os setores ou indústrias mais lucrativas para o investimento privado.
Para países distantes da fronteira tecnológica, a alocação eficiente pode gerar efeitos negativos no longo prazo sobre as elasticidade de demanda das mercadorias produzidas (eficiência de crescimento) e do potencial inovativo (eficiência inovativa). As escolhas alocativas presentes influenciam (induzem) a direção e a velocidade da evolução futura das vantagens/desvantagens tecnológicas de um sistema econômico, de modo que o custo de catch up pode ser inviável num país subdesenvolvido, onde a escassez de recursos é aguda e permanente.
O trade-off entre eficiência alocativa e inovativa aparece claramente ao se analisar os países relativamente distantes da fronteira tecnológica. Os padrões de especialização de um país são determinados pelo tamanho relativo das defasagens ou dos avanços específicos dos setores dinâmicos da economia. Se a defasagem em todas as tecnologias mais dinâmicas (onde estão as melhores oportunidades) for maior, a eficiência alocativa estará em conflito direto com a eficiência inovativa. Desse modo, a probabilidade de tais trade-offs é proporcional à distância que separa cada país da fronteira tecnológica nas mais novas, dinâmicas e penetrantes tecnologias.
Um argumento semelhante explica como o trade-off entre eficiência alocativa e de crescimento se apresenta aos países, que podendo especializar-se “eficientemente” na produção de mercadorias com fraca demanda internacional, restringem seu potencial de crescimento àquele consistente com equilíbrio de BP.
Em condições de rendimentos não-decrescentes (e frequentemente crescentes), os mercados não conseguem relacionar as variáveis eficiência inovativa e de crescimento aos sinais de lucratividade relativa para as empresas: com isto, são necessárias políticas.
Desse modo, a superação dos trade-offs tratados acima constituem o domínio fundamental para as políticas de desenvolvimento econômico. A compreensão acurada dos sinas de mercado, com intervenções nos padrões dos sinais, regras das respostas alocativas e formas de organização institucional da “máquina econômica” são mais importantes em fases de transição entre regimes tecnológicos, que definem o novo conjunto de oportunidades e ameaças ao desenvolvimento.
Cimoli, Dosi, Nelson e Stiglitz ao aprofundarem este ponto em Instituições e políticas moldando o desenvolvimento industrial: uma nota introdutória, distinguem entre as noções de:
(i) eficiência alocativa;
(ii) eficiência inovativa (ou “ schumpeteriana”); e,
(iii) eficiência de crescimento de padrões particulares de produção.
As escolhas possíveis entre essas três noções têm pouco a ver com problemas relacionados à informação incompleta, ainda que esses efeitos possam ser relevantes numa análise mais ampla; mas com oportunidades econômicas decorrentes de decisões passadas, bem como com a assimetria que caracteriza a tomada de decisão frente a um passado irrevogável e a um futuro incerto.
Argumentam os autores que mecanismos relativos à alocação de recursos afetam hoje e afetarão a direção e a velocidade futuras das inovações, de modo que o conjunto das decisões individuais ao longo do curso histórico acabam determinando quais competências técnicas serão acumuladas, com maior potencial inovativo e presumíveis economias de escala. O progresso técnico, portanto, evolui em permanente desequilíbrio, de maneira dinâmica, com decisões presentes influenciando os coeficientes técnicos futuros, bem como os setores ou indústrias mais lucrativas para o investimento privado.
Para países distantes da fronteira tecnológica, a alocação eficiente pode gerar efeitos negativos no longo prazo sobre as elasticidade de demanda das mercadorias produzidas (eficiência de crescimento) e do potencial inovativo (eficiência inovativa). As escolhas alocativas presentes influenciam (induzem) a direção e a velocidade da evolução futura das vantagens/desvantagens tecnológicas de um sistema econômico, de modo que o custo de catch up pode ser inviável num país subdesenvolvido, onde a escassez de recursos é aguda e permanente.
O trade-off entre eficiência alocativa e inovativa aparece claramente ao se analisar os países relativamente distantes da fronteira tecnológica. Os padrões de especialização de um país são determinados pelo tamanho relativo das defasagens ou dos avanços específicos dos setores dinâmicos da economia. Se a defasagem em todas as tecnologias mais dinâmicas (onde estão as melhores oportunidades) for maior, a eficiência alocativa estará em conflito direto com a eficiência inovativa. Desse modo, a probabilidade de tais trade-offs é proporcional à distância que separa cada país da fronteira tecnológica nas mais novas, dinâmicas e penetrantes tecnologias.
Um argumento semelhante explica como o trade-off entre eficiência alocativa e de crescimento se apresenta aos países, que podendo especializar-se “eficientemente” na produção de mercadorias com fraca demanda internacional, restringem seu potencial de crescimento àquele consistente com equilíbrio de BP.
Em condições de rendimentos não-decrescentes (e frequentemente crescentes), os mercados não conseguem relacionar as variáveis eficiência inovativa e de crescimento aos sinais de lucratividade relativa para as empresas: com isto, são necessárias políticas.
Desse modo, a superação dos trade-offs tratados acima constituem o domínio fundamental para as políticas de desenvolvimento econômico. A compreensão acurada dos sinas de mercado, com intervenções nos padrões dos sinais, regras das respostas alocativas e formas de organização institucional da “máquina econômica” são mais importantes em fases de transição entre regimes tecnológicos, que definem o novo conjunto de oportunidades e ameaças ao desenvolvimento.
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