Abaixo, trecho de artigo de Lawrence Summers, economista-chefe do Banco Mundial, publicado no The Economist, na edição de 6 de fevereiro de 1992, que trata das ainda atuais ineficiências alocativas de lixo e outros materiais poluidoras entre os países desenvolvidos e os "em desenvolvimento" e a posição que o Banco Mundial deveria adotar frente ao problema.
"(...) não deveria o Banco Mundial estar encorajando mais migração das indústrias poluidoras para os países menos desenvolvidos ? Três razões vêm-me ao espírito:
1) A medição dos custos da poluição prejudicial à saúde depende dos ganhos auferidos com uma maior mortalidade. Levando-se em conta esse ponto de vista, uma determinada quantidade de poluição prejudicial à saúde deveria ser gerada no país com os menores salários. Eu penso que a lógica econômica por trás do despejo de um carregamento tóxico no país de menores salários é impecável e deveríamos levá-la em conta.
2) Os custos da poluição deverão ser não-lineares, já que os acréscimos iniciais de despesas com a poluição provavelmente têm um custo muito baixo. Sempre achei que os países subpovoados da África eram extremamente ´subpoluídos´; a qualidade do ar é, provavelmente, ineficientemente baixa comparada com a de Los Angeles ou com a da Cidade do México. Apenas o lamentável fato de que tanta poluição é gerada por indústrias não-deslocáveis (transportes, geração de eletricidade) e que os custos de transporte por unidade dos detritos sólidos sejam tão caros impedem um comércio de poluição atmosférica e lixo aumentando o bem-estar mundial.
3) A demanda por um meio ambiente limpo por razões estéticas e de saúde provavelmente terá uma grande elasticidade de ganhos. A preocupação com um agente poluidor que causa alteração de um em um milhão de probabilidades de um câncer da próstata do que em um país onde a mortalidade das crianças de até 5 anos é de duzentas por mil. Além disso, uma grande parte das preocupações com as emissões de poluentes industriais é com as partículas que dificultam a visibilidade. Essas partículas podem ter um impacto direto sobre a saúde muito pequeno. É claro que o comércio com bens que corporificam as preocupações com a poluição estética pode ser favorável ao bem-estar. Enquanto a produção é deslocável, o consumo de ar puro não é comercializável.
O problema com os argumentos contrários a todas essas propostas de mais poluição nos países menos desenvolvidos (direitos intrínsecos a certos bens, razões morais, preocupações sociais, falta de mercados adequados, etc) poderia ser invertido e usado com maior ou menor eficiência contra qualquer proposta do Banco Mundial de concessão (de verbas)."
Comentário do Gustavo Schirmer, de onde veio a pérola, dá para discordar?
Temos aí tudo o que é necessário para um economista neoliberal: análise racional, uso dos termos corretos (eficiência, elasticidade, etc), completo desprezo pelos seres humanos que não lhe possam prover vantagens. Esse grande economista não só permanece à solta, como ainda consegue cargos influentes. Qual é o limite para a demência neoliberal?
Um clássico da insanidade com método.
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